Neste Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, politécnicas contam suas dificuldades, conquistas e vivências

As engenharias ainda têm um bom caminho a percorrer para atingir a equidade de gênero. Considerada uma carreira masculina, a presença feminina ainda é incipiente na área, mas está começando a ganhar fôlego.  De acordo com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea), apenas 15% dos profissionais registrados no Sistema Confea/ Crea são mulheres

Ainda, 36% dos estudantes graduados em engenharia, produção e construção são mulheres, segundo o último Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Já é possível encontrar algumas áreas da engenharia em que a maior parcela é feminina, como na engenharia de alimentos, na qual são 62% dos profissionais, e na engenharia de bioprocessos e biotecnologia, representando 59,4% do todo. O protagonismo feminino se faz presente, principalmente, nas engenharias voltadas ao meio ambiente, como a ambiental, de recursos hídricos e sanitária.

As dificuldades enfrentadas pelas engenheiras são muitas. Ainda na escola, não há um real incentivo para que as meninas sigam profissões ligadas à Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, as chamadas carreiras STEM. Já na universidade, o ambiente não é o mais acolhedor: professores que não respeitam sua escolha, colegas que pensam que elas não deveriam estar ali, além daqueles que duvidam que uma mulher pudesse estudar – e entender – exatas. 

Marcelle Herescu [Imagem: Acervo Pessoal/Marcelle Herescu]

No mercado de trabalho, isso apenas é ampliado: a desigualdade de remuneração, a falta de representatividade, preconceito, dificuldade em ocupar cargos de coordenação. “É difícil porque é uma carreira ainda muito masculina”, diz Marcelle Herescu, engenheira de materiais formada pela Escola Politécnica (Poli) da USP.

Ela conta que enfrentou dificuldades por ser mulher durante seu tempo na Poli, com colegas e professores que não acreditavam que era possível uma mulher se interessar e ser boa na profissão. Nesse caminho, deparou-se com esse mesmo pensamento durante seu tempo na Indústria. “Virei coordenadora, fui a primeira mulher em cargo de liderança de produção na fábrica. Lá só tinham mulheres em recursos humanos, contabilidade e jurídico”, lembra. 

Atualmente, faz parte do Clube Minerva e luta por equidade e igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. Um dos projetos pensados no Minerva, inclusive, é “uma mentoria para alunas de ensino médio e mais para baixo, porque se o nosso intuito é trazer mais mulheres para áreas de exatas, não adianta só falar com o pessoal que já está na faculdade”.

Liedi Bernucci. [Imagem: Reprodução/Cecília Bastos, USP Imagens]

Liedi Bernucci, engenheira civil formada pela Poli, também enfrentou esse problema. “Quando eu entrei, éramos 29 mulheres em 620 alunos. Então, eram poucas meninas e aí eu senti o baque. Eu senti preconceito de alguns professores poucas vezes, mas ele aconteceu”, diz.

O mais grave, como conta, é que não teve para quem reclamar sobre isso. Além disso, as atitudes machistas presenciadas durante a graduação poderiam ter levado muitas meninas a desistirem da profissão. “Por causa dessas afirmações machistas e preconceituosas, o que você pode causar em uma jovem?”, questiona. “Em mim, despertava o contrário, despertava a raiva de ouvir isso”. Liedi tornou-se a primeira mulher a ocupar a diretoria da Escola Politécnica, entre 2018 e 2022. 

Renata Maria Marè [Imagem: Acervo Pessoal/Renata Maria Marè]

“Eu acho que no mestrado e no doutorado foi bem mais tranquilo, mas o preconceito existe, não tem jeito”, diz Renata Maria Marè, que entrou na Poli como mestranda. Diferentemente das outras, não sentiu o impacto do que é ser mulher na Escola Politécnica durante a graduação, mas, mesmo assim, notou a desigualdade dentro da profissão.

“No mercado de trabalho, numa reunião, tem você e mais um monte de homem ou você e mais uma amiga. Não tem jeito, a gente acaba ficando meio que em segundo plano e é uma coisa da gente saber que existe e seguir enfrentando”, diz.

Hoje, 23, comemora-se o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia. A data foi instituída pelo Women ‘s Engineering Society, do Reino Unido, que foi criada logo após a Primeira Guerra Mundial. Desde então, a sociedade dá suporte às mulheres na engenharia, apoiando novas engenheiras para que todo seu potencial possa ser visto e que a carreira se torne mais inclusiva. 

A Associação dos Engenheiros Politécnicos, em contínuo apoio à busca de equidade na profissão, parabeniza todas as politécnicas, estudantes ou egressas, desejando que o preconceito seja gradativamente substituído pelo merecido e justo reconhecimento, decorrentes das conquistas de nossas colegas. 

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